quinta-feira, 19 de maio de 2011

O mais belo samba de Florianópolis

Corro um risco sério ao dizer que é o mais belo samba de Florianópolis, sem restringir a samba-enredo. É porque não conheço composição local mais bela. Para mim, figura no top 10 do carnaval. É o samba de 1982 da Embaixada Copa Lord.

O enredo é divino. A sinopse, transcrita abaixo, é carregada de emoção. Percam 5 minutos para lê-la. Se for o caso, não leiam meu texto, mas leiam a sinopse, que é infinitamente superior. A história tem começo, meio e fim e não cai na monotonia: escolhe uma história indígena cheia de dinâmica. Há três momentos bem marcados na sinopse, que correspondem à divisão do desfile: a ilha encantada, os invasores espanhóis e o reino marinho do boto-rei. Há, ainda, um setor do desfile (o segundo) que corresponde ao estribilho do samba, representando uma festa na aldeia.

A letra de Camargo, compositor de vários dos melhores sambas-enredo da cidade, é marcada pela formação de imagens marcantes, como em "e hoje nas noites enluaradas / iniciando a cavalgada / no dorso do boto-rei". A melodia traduz a vida tranquila dos carijós, na doçura da primeira parte e do estribilho. Adquire alguma tensão, como alguém que estranha os acontecimentos, na segunda parte. E tem um desfecho épico na terceira. Quando Alberto Mussa e Luiz Antônio Simas, em seu "Samba de enredo: história e arte", afirmam que o samba-enredo é o único gênero épico genuinamente brasileiro, certamente é a isso que se referem.

Fenomenal. É inacreditável que este samba não seja cantado por ninguém nesta cidade sem memória.


O último carijó na ilha encantada

Sinopse
Autor: Moacir Benvenutti Filho


"A todos os que lutam para que os índios não desapareçam da terra brasileira"


O enredo da Embaixada Copa Lord se baseia em um poema do professor Amaro Seixas Netto, onde é narrada a destruição dos guerreiros Carijós por navegadores espanhóis e a última luta do chefe indígena Caiobig, que depois de morto se transformou em aparição nas noites de lua da Baía Sul.

Na ilha encantada, onde a natureza ainda não havia sido destruída, viviam os Carijós, uma tribo pertencente à nação Tupi. Os Carijós eram um povo da mata e adoravam o sol e a lua. Viviam na aldeia e seu estado de inocência e felicidade era consequência de sua perfeita harmonia com a natureza.

Um dia chegou na aldeia a notícia de que estranhas velas chegavam à baía. Os guerreiros correram pelas praias e dos navios, os invasores começaram a atirar com seus canhões. Foi um morticídio geral e desta luta desigual só sobrou um índio, o cacique Caiobig, que cantou seu último canto de guerra e sozinha em sua canoa rumou pelas águas da Baía Sul para dar combate aos inimigos. Um canhão estrondou e ele morreu. Então, do fundo do mar vieram os botos e levaram seu corpo para o cemitério sagrado dos índios.

Conta a lenda que, quando a luz prateia as águas da baía, os botos em lentos saltos vêm à tona e sobre o dorso do boto vanguardeiro, o boto-rei, está montado o último guerreiro Carijó. Ele grita por seus guerreiros, para que venhamcom ele para a cavalgada dos botos vigilantes das noites de luar.

O último carijó na ilha encantada
(Edson Camargo Evangelho)

Sonhando com a ilha encantada

Junto à natureza, hoje eu vi
Carijós vivendo em tribos
Felizes, sem inimigos
A grande nação tupi

Carijó, filho forte da mata
Curacê, sol no céu a brilhar
Caiobi, curumim, cunhatã
Vem, Jaci, nos ensina a amar

Um dia na aldeia a notícia chegou
Que estranhas velas se aproximavam
São invasores cheios de maldade
Foi o fim da liberdade
Lindo sonho que acabou

Carijó, filho forte da mata
Curacê, sol no céu a brilhar
Caiobi, curumim, cunhatã
Vem, Jaci, nos ensina a amar

E hoje nas noites enluaradas
Iniciando a cavalgada
No dorso do boto-rei
É ele a sentinela aguerrida
Que sem temor deu a vida
E por acaso eu sonhei...

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