quarta-feira, 20 de abril de 2011

Maria Antonieta: enfadonha e inspiradora


O Universal Channel é um dos poucos canais nos quais deixo minha televisão ligada, principalmente à noite, quando preciso me distrair até um ponto em que a mente adormeça. Suas séries sempre impecáveis - registre-se The Event como infâme exceção, mais uma bobagem no estilo de Lost - são cativantes, capitaneadas pelo profundamente irônico House.
O nível das séries não é acompanhado pelo repertório de filmes do canal. Nos últimos meses, foram reprisadas insistentemente - muito insistentemente!! - obras como o musical Mamma Mia! e Desventuras em série. Ontem, após mais um dia de trabalho, me rendi à cinebiografia de Maria Antonieta, num interesse misto de historiador e homem de carnaval.



Poucas vezes um roteiro me frustrou tanto! Para gerar algum apelo, o filme dirigo por Sofia Coppola recorre a um apanhado de excentricidades que tentam - sem sucesso - chocar o público. Kirsten Dunst interpreta uma Maria Antonieta que não passa de um elemento de composição rococó, junto ao exuberante cenário e ao gracioso figurino: irradia luz, leveza, suavidade e uma interpretação pouco inspirada. Logo me veio à mente uma comparação do filme ao clássico trash As Patricinhas de Beverly Hills, mas em meu rápido passeio pelo Google descobri que tal comparação não seria inédita.




É evidente que nada disso tira o valor da cenografia e do figurino, impecáveis. A fotografia é estonteante. É um filme em que tudo converge para favorecer o visual, encharcado dos exageros e da delicadeza da corte francesa pré-Revolução. Os figurinos em adequadíssimos tons pastéis são harmonizados ao colorido do interior e, especialmente, dos jardins do Palácio de Versalhes, cenário principal onde se desenvolve a trama (ou a ausência dela).


Infelizmente, termina exatamente quando você pensa que algo irá tirar seu fôlego, empolgar. Para não retratar a protagonista perdendo a cabeça, a última cena é uma tranquila despedida dos jardins - inadequada ao momento conturbado, até mesmo para a fútil personagem.
A cena mais interessante é muito rápida e talvez passe despercebida: a leitura de Rousseau por Maria Antonieta e suas "patricinhas", seguida por um breve silêncio reflexivo. O texto falava sobre o homem em seu estado natural e é seguido por imagens da rainha em meio à natureza. A cena nos manda direto para a época, fazendo pensar sobre como os textos eram lidos e interpretados a partir da realidade daqueles leitores.




Apesar do fraco roteiro, o filme enche os olhos e é inspirador. Ah, como queria um bom enredo histórico em minhas mãos! A propósito, uma curiosidade carnavalesca: em 2008, o filme inspirou Rosa Magalhães para um setor inteiro de João e Marias, enredo da Imperatriz Leopoldinense que tratava das várias Marias que influenciaram a vida de Dom João. É um dos mais belos setores de desfile que já passaram pela Sapucaí: requintado, carnavalesco e adequado à época. Para melhorar, o enredo tem uma trama bem mais interessante que a do longa de Sofia Coppola...





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